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A volta do mate: o ritual que fortalece laços no CTG

A volta do mate: o ritual que fortalece laços no CTG

O mate, ou chimarrão, é muito mais do que uma bebida tradicional do sul do Brasil — ele é símbolo de convivência, hospitalidade e identidade cultural. Em tempos de correria e distanciamento, esse hábito ancestral tem ganhado novo significado, especialmente dentro dos Centros de Tradições Gaúchas (CTGs), onde a roda de mate voltou a ocupar um espaço de destaque como um verdadeiro ritual de união.

Nos galpões e piquetes, o som da cuia passando de mão em mão acompanha conversas, risadas, ensaios de danças e decisões importantes. Mas por que o mate é tão especial nesse ambiente? O retorno desse costume dentro dos CTGs mostra que a tradição não apenas resiste ao tempo — ela se reinventa com ele.

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A simbologia do mate dentro da cultura gaúcha

O chimarrão é carregado de simbolismos. Na cultura gaúcha, ele representa respeito, partilha e igualdade. Ao oferecer a cuia para alguém, não se entrega apenas uma bebida quente e amarga — entrega-se tempo, atenção e o desejo de construir uma conversa, mesmo que silenciosa.

Dentro dos CTGs, esse gesto ganha ainda mais força. É comum que a roda de mate se forme antes dos ensaios de dança, rodeios artísticos, reuniões administrativas e até nos intervalos dos fandangos. Servir e tomar o mate ali é um ato quase cerimonial, que reforça a ideia de pertencimento e acolhimento.

O retorno do hábito pós-pandemia

Durante os anos de pandemia, o ritual do chimarrão sofreu uma pausa forçada. A partilha da cuia, tão característica da tradição gaúcha, precisou ser interrompida por questões sanitárias. Esse afastamento gerou um impacto visível nos CTGs: as rodas ficaram mais silenciosas, os encontros mais rápidos e os laços um pouco mais frágeis.

Com o retorno gradual da normalidade, a volta do mate foi também a volta de uma conexão emocional. Muitos CTGs passaram a incentivar o hábito novamente, respeitando os cuidados básicos de higiene, mas promovendo rodas em que cada um traz sua bomba ou compartilha com quem se sente seguro. O simples ato de tomar mate voltou a preencher os galpões com calor humano.

Mais do que bebida: uma forma de aprender e ensinar

Para os jovens que ingressam no CTG, o mate é uma das primeiras tradições apresentadas. Muitos aprendem com os pais, avós ou instrutores como preparar a erva, esquentar a água na temperatura certa, e cuidar da cuia e da bomba. Não é raro que as primeiras rodas de conversa sobre tradição, campeirismo ou valores do gaúcho comecem ao redor do fogo com um mate sendo cevado.

Esse processo de transmissão de saberes acontece de forma natural, descontraída, e muitas vezes mais eficiente do que qualquer aula formal. O chimarrão se transforma em ponte entre gerações, mantendo vivo o que há de mais genuíno na cultura tradicionalista.

O papel do mate nos eventos e celebrações

Além da rotina dos CTGs, ele tem um papel central nos eventos maiores, como festas campeiras, rodeios, encontros artísticos e concursos de prendas e peões. É comum ver piquetes montados com água quente disponível o dia todo, cuias circulando entre famílias e visitantes, e rodas se formando espontaneamente embaixo das lonas ou junto às churrasqueiras.

Muitos CTGs, inclusive, criaram espaços fixos com erva-mate à disposição e chaleiras sobre brasas, reforçando o costume de recepcionar bem os visitantes com um mate. Essa tradição, além de fortalecer os laços internos, encanta quem vem de fora e quer conhecer mais sobre a cultura gaúcha.

Um hábito que une e emociona

A volta do mate aos CTGs é mais do que o resgate de uma prática cultural — é a retomada de um sentimento coletivo. Em tempos de distanciamento e individualismo, a roda de chimarrão nos lembra que o convívio simples, o olhar atento e o silêncio partilhado têm um valor imenso.

Cevando o mate com calma e oferecendo com carinho, os tradicionalistas continuam transmitindo a essência do gaúcho: a hospitalidade, o respeito, a amizade e o amor pelas raízes. E é nesse gesto tão singelo que mora a força de uma cultura que não se rende ao tempo.

Natália Espíndola

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