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Santa Maria: turismo religioso, boemia e trilhas urbanas

Santa Maria: turismo religioso, boemia e trilhas urbanas

Existe uma Santa Maria que vai além da rotina universitária, dos bares cheios de histórias e das avenidas movimentadas. Uma cidade que revela camadas místicas em seus altares, nas trilhas que cruzam o morro do Cerrito e nas lendas que ecoam nos porões do Theatro Treze de Maio. Quem visita Santa Maria com olhos curiosos encontra muito mais do que esperava: encontra fé, arte, silêncio e festa, tudo entrelaçado no mesmo território.

Turismo religioso em Santa Maria: santuários, milagres e espiritualidade

Santa Maria é um dos polos do turismo religioso no Rio Grande do Sul. A cidade abriga o Santuário Basílica Nossa Senhora Medianeira, o único com o título de “Basílica” no estado. Sua grandiosidade chama a atenção de quem passa pela Avenida Medianeira, mas o que impressiona mesmo é a energia do local.

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Milhares de fiéis participam da Romaria da Medianeira, realizada anualmente desde 1930, atraindo peregrinos de várias regiões do país. A fé popular toma as ruas com cantos, promessas, lágrimas e histórias de superação — muitas delas relacionadas a curas e graças alcançadas.

Além da Basílica, Santa Maria tem uma forte tradição católica refletida em diversas igrejas centenárias. A Catedral Diocesana, por exemplo, é um marco arquitetônico que combina fé e história no coração da cidade. Quem percorre esses templos sente que está visitando não apenas locais sagrados, mas pontos de memória viva.

Os porões do Treze de Maio: espiritualidade e arte no centro histórico

Pouca gente sabe, mas sob o Theatro Treze de Maio, na Praça Saldanha Marinho, existe um espaço onde arte e espiritualidade se cruzam. O “porão do Treze” já foi palco de rituais de candomblé, reuniões políticas clandestinas e oficinas teatrais.

Esse subsolo, carregado de história, parece guardar segredos — e muitos artistas locais acreditam que ali vivem “vozes do passado”. A mistura de boemia, espiritualidade e ativismo cultural faz desse local um dos mais simbólicos da cidade.

Visitar o Theatro Treze é mergulhar na alma de Santa Maria. Os espetáculos frequentemente abordam temas ligados à fé, à resistência e à ancestralidade. Muitos moradores dizem sentir uma energia diferente no teatro — algo entre o sagrado e o profano.

Trilhas urbanas e natureza silenciosa no Cerrito

No alto do Morro do Cerrito, encontra-se outro ponto de peregrinação: o monumento de Cristo Rei. O local, embora pequeno em extensão, oferece uma das vistas mais bonitas da cidade e um refúgio espiritual a céu aberto.

A trilha até o topo do Cerrito, percorrida por religiosos na Semana Santa e por trilheiros nos fins de semana, revela a ligação entre natureza e espiritualidade que tanto marca a identidade de Santa Maria. Há quem suba descalço, em oração. Outros, em silêncio, só para observar a cidade do alto. O Cerrito é lugar de promessas, fotos e contemplação.

Ali também se encontra o Caminho de Santiago de Compostela, em sua versão gaúcha: o trecho entre Santa Maria e Santiago do Boqueirão, realizado por romeiros que buscam a mesma conexão espiritual do famoso caminho espanhol. Um roteiro místico, simples e cheio de significado.

O lado boêmio da fé: bares, lendas e encontros inusitados

Se há uma cidade que mistura fé e boemia de forma quase poética, essa cidade é Santa Maria. Não é raro ver devotos da Medianeira saindo da igreja direto para um chope na João Luiz Pozzobon, ou atores de teatro discutindo espiritualidade em uma mesa de bar até altas horas.

A boemia santa-mariense é viva, criativa e cheia de histórias. Reza a lenda que alguns bares do centro já foram terreiros disfarçados na década de 1960. Há também quem jure ter visto aparições de santos na Praça Saturnino de Brito — ou espíritos antigos nos corredores da antiga Reitoria da UFSM, hoje museu.

Essa mistura de fé e farra, longe de ser contraditória, revela a verdadeira alma da cidade: plural, livre, devota e cheia de personalidade.

Museus, sincretismo e espaços de conexão

O Museu de Arte Sacra da UFSM, localizado no prédio histórico do antigo Seminário São José, guarda peças que vão além do catolicismo. Ali estão esculturas e objetos que mostram o sincretismo religioso brasileiro: santos com traços afro-brasileiros, terços ao lado de colares de orixás, imagens de Maria vestidas com tecidos coloridos típicos das religiões de matriz africana.

Outro espaço interessante é o Terreiro de Umbanda Pai Xangô, aberto à visitação em determinadas épocas do ano. Lá, além das giras religiosas, são realizados encontros inter-religiosos, rodas de conversa e oficinas culturais — tudo com foco na tolerância e no diálogo.

Esses locais mostram que a espiritualidade de Santa Maria não se restringe a uma única crença. A cidade acolhe diversas manifestações religiosas, e essa pluralidade é um de seus maiores trunfos turísticos e culturais.

Uma cidade mística que se revela aos poucos

Santa Maria não entrega seus segredos de primeira. É preciso caminhar, conversar com os moradores, visitar uma benzedeira no bairro Itararé, parar em uma igreja no meio da tarde, ouvir histórias no Mercado das Pulgas ou simplesmente se perder nas ladeiras do centro.

É nesse ritmo calmo e curioso que a cidade revela seu lado místico. Não como produto turístico, mas como experiência de vida. Santa Maria é daquelas cidades que a gente visita com o corpo e leva na alma.

Nathy silva

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