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Entre o cheiro da lenha queimando e o som da panela de ferro chiando no fogo de chão, nasce um dos pratos mais emblemáticos da culinária gaúcha: o carreteiro de charque. Rústico, nutritivo e carregado de história, esse prato não é apenas alimento — é memória viva do Rio Grande do Sul. Com ingredientes simples e um preparo que respeita o tempo, ele segue conquistando gerações, mantendo-se firme como símbolo da cozinha campeira.
A cada colherada, o carreteiro revela mais do que sabor: ele conta sobre tropeiros, lidas do campo, encontros de CTG e domingos em família. É o tipo de comida que acolhe, que conforta, que une.
O nome “carreteiro” tem origem nos antigos carreteiros — homens que cruzavam o estado puxando carretas de bois, levando mantimentos e mercadorias. Como viajavam longas distâncias e não tinham acesso a carnes frescas, levavam consigo o charque (carne bovina salgada e seca ao sol), arroz, banha e alguns temperos.
Na beira da estrada, improvisavam panelões sobre fogo de chão e cozinhavam o que tinham à mão. O resultado era uma refeição prática, saborosa e muito calórica — ideal para enfrentar os desafios da lida campeira. O carreteiro nasceu da necessidade, mas ganhou status de tradição.
O charque é a alma do carreteiro. Preparado artesanalmente em muitas regiões do estado, ele exige cuidado no dessalgue e no preparo. O ideal é deixá-lo de molho por algumas horas ou escaldá-lo em água quente antes de ir para a panela, garantindo que o sal realce o sabor sem dominar o prato.
Desfiado ou cortado em cubos pequenos, o charque ganha nova vida no refogado com cebola, alho, pimentão e, às vezes, tomate. É ele quem confere ao prato aquele gosto defumado e marcante, difícil de imitar com carnes convencionais.
Fazer um bom carreteiro não é tarefa apressada. A receita tradicional respeita o tempo de cada ingrediente. Primeiro o charque, depois o refogado, seguido do arroz (sempre branco e de grão longo), e, por fim, a água quente para o cozimento.
Tudo isso, de preferência, em uma panela de ferro, que mantém o calor uniforme e dá aquele toque especial à receita. O fogo deve ser constante, mas brando. A ideia é deixar o arroz cozinhar lentamente, absorvendo todos os sabores.
É comum que, ao final, se adicione salsinha ou cebolinha fresca picada por cima, trazendo contraste e perfume à preparação. E, claro, uma boa pimenta sempre é bem-vinda à parte.
O carreteiro é um prato versátil. Ele pode ser servido como refeição principal ou como acompanhamento em encontros maiores. Vai bem com feijão campeiro, salada de batata ou mesmo com um ovo frito por cima.
Mas o que mais encanta é sua capacidade de reunir. Nos acampamentos farroupilhas, nos encontros de CTG, nos almoços de domingo e até em concursos gastronômicos, o carreteiro aparece como estrela. Cada cozinheiro tem seu segredo, sua maneira de cortar o charque ou seu tempero especial — e é isso que mantém a tradição viva e pulsante.
Além disso, o prato também ganhou releituras contemporâneas. Há carreteiros vegetarianos, com legumes defumados, e versões com cortes mais nobres da carne. Mas o original, feito com charque, segue insubstituível.
Enquanto muitas receitas desaparecem com o passar das gerações, o carreteiro de charque permanece. Ele é passado de pais para filhos, transmitido em oficinas culinárias, replicado em escolas e festejado nas mesas do interior e das cidades.
Em tempos de fast food e refeições industrializadas, o carreteiro de charque é um lembrete de que cozinhar é também um ato de pertencimento e de amor à terra. Ele não precisa de sofisticação: sua força está na simplicidade e na história que carrega.
Mais do que matar a fome, ele alimenta o vínculo com a cultura gaúcha — e por isso, nunca sai de moda.
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